domingo, 1 de maio de 2011

Rima mais rima não faz sentido

Quando penso em você,
Não penso: Você, pense!
-Ouça! o ruído dos pensamentos
maximizando a catacrese de nosso bem querer.

Penso que penso, mas não penso.
Penso no que pensei,
e que se não pensado direito.
haveria de ter pensado em você.

Confusão, desilusão, solidão, proporção.
Glória, êxtase, calmaria e aliteração
Tudo se desmancha como se desmancha
a montanha de barro na terra do sentir.

Em você; sobre você; sob você; dentro de você
Fora de mim, por cima de mim, sem mim.
Uma morte preta, de fora pra dentro
e de dentro para tudo: o resto.

Meus pensamentos são metáforas iluminadas
que pingam viscosidades enegrecidas, derretidas.
Fundidas de ideias hiperbólicas.

Janela do peito


Não posso calar.Ouvir sem nada falar,
Bem-dizer sem amar por inteiro.
Mesmo assim vou cantar o teu nome ao mar,
Sem que escutes o ecoar marinheiro.

Cada verso final que, na força animal,
Retorna aos ouvidos do amante.
E na barca se vai todo amor que contrai
Num sussurro o final da um gigante.

Alvores matinais e presenças irreias,
Sopro esguio leva e trás: palavras.
Na maré do pensamento, com a força do momento
Fruto de tantos lamentos: escalavra.  

quinta-feira, 7 de abril de 2011

Dislexia

Um braço e depois o outro. Estica a perna e salta. Há realmente um espaço enorme entre mim e o mundo.O que há, na verdade, é um abismo de mentiras entre eu e o mundo. Mentiras que  jazem no vácuo da individualidade de ambas as partes. Felizmente, sinto somente vontade de dançar. E sair pelo mundo afora sendo feliz comigo mesmo. Deitar na grama; molhar os pés no riacho; cheirar meu livro novo; admirar a capa dos antigos; pegar na mão e enrubescer. Posso até sentir, às vezes, que não sinto nada. Mas se isso chegou a acontecer é porque já senti demais; do bom ou do ruim. Posso até dizer isto sem aquilo, mas se isso chega a acontecer, é porque palavras já não funcionam mais como passe para o circo de horrores que cada um leva dentro de si. Meu ou seu, não importa. O que não vemos está diante dos nossos narizes: somos iguais e diferentes e, entender e aceitar isso é o primeiro passo gratuito para a felicidade. Porém, minha existência desagua em todas as outras, e isso pode ser o ponto final da minha odisséia particular.

O mar me namora

Enquanto o quebrar das ondas na bahia traz o cheiro da maresia e a umidade densa da água, o movimento retrógrado leva das minhas costas o fardo de ser humano, desmanchando-se como o sal que ali jazia corrosivo. Ali somos só eu e ele, e eu esqueço tudo o que me fere. Quando está longe ainda assim consigo escutar seus sussurros e se passamos muito tempo sem nos encontrar, ele manda suas mensagens que ululam através dos ventos fortes do temporal. Devo confessar que a ele não sou fiel, e a recíproca não é verdadeira. Na necessidade vejo dispor-se diante mim seu lençol de renda em relevo, ainda que nos tempos de glória não pare para pensar na dívida infindável que tenho com ele. O mar me namora; onda bate e volta, leva meus amores antigos e traz minha vontade de ir embora; mar adentro.

Pretensão

Bailarina dança solta folha verde descontinuada dos cachos que o vento balança e o vestido que urge na franja do vento. Daquela pele morena salta arrepio que novamente ao vento espraia o doce perfume de pitangas ao meio dia. A musica continua e o ardor de pés cansados não pode mais ser percebido. Vi a lua naquele instante enamorar-se pelo sol e tudo que restou fora a sombra do teu olhar e tua mão na minha mão. Giro entorno do corpo inclinado como coqueiro no litoral e a saia roda gira e torna ao mesmo lugar de outrora. Um toque suave calor da manhã outonal e o encostar do meu rosto no seu me faz querer ser uno em tua densa natureza selvagem. Vi  ali o verbo se fazer carne e carne se dissipar no horizonte das ilusões e chuva cai mão se vai não atrai, fulgaz.

quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011

Sonhalidade

Finalmente acordei daquele terror de vida. Com a boca seca e sensação de afogamento interno,  sentei na cama e me pus a pensar realidades deturpadas e preconizadas pela conjunção "se". A dor batera, cessara e agora...voltara. O lamento não faz em minha boca boa moradia. O animal que persegui ferozmente rejeitou as tentativas de domesticação e agora é meu algoz. O jogo virara. Volta e meia me prendo nas teias que eu mesmo teci; caio nas arapucas que eu mesmo armei; sucumbo às ameaças da minha própria sanidade. Não posso esquecer da contradição, pois nas metáforas me sinto afinado, apesar de pouco poder de abstração  de mim para comigo. Tudo isso foi me mostrado em sonho. O consciente tapeia, mas o inconsciente é severo. É ele meu verdadeiro algoz. Me prende a um lugar ao qual não quero estar mais. Nos sonhos tudo é lindo. Nos meus sonhos a realidade é cortante... dilacerante. Devaneios feitos, vem a raiva de sentir e ser o que realmente são inerentes à minha pessoa. E com um balde de água gelada o sonho me desperta. Não para a vida que eu sempre sonhei, mas para a realidade que eu nunca tive e sempre sinto des(res)peito.

domingo, 6 de fevereiro de 2011

O cheiro do medo

Sou um palhaço com a maquiagem ao avesso. Um bobo da corte de roupa monocromática. Um filme mudo em slow-motion. Tão tedioso e desinteressado quanto o balanço da maré. Sinto tudo e, ao mesmo tempo, nada. Vazio. Nos meus olhos nadam os grandes mamíferos selvagens. No meu coração sopra o vento congelante vindo do sul. Nos punhos as vinhas que prendem a minha existência espiritual à esta terra devastada. Aos ouvidos, o temor da morte quase certa. De minha boca, lâminas púrpuras, tranformando palavras em objetos de tortura. E da jaula forjada com barras de marfim escapam sussurros de dores da alma. Porém, ninguém escuta. É baixo demais. Uma folha seca ao sabor do vento tem mais sorte que eu. Posso mudar...transformar... Posso sumir? Minha vida não merece ser abreviada. Não mereço tanto. Na verdade, não mereço nada.